À la mode? Démodé?

Há um fenómeno curioso que atravessa a língua portuguesa (e, muito provavelmente, todas as línguas, no seu todo) : a utilização de determinadas expressões ou palavras que, por inusitadas artes mágicas, estão na moda.
É um pouco o que sucede com as anedotas que circulam por aí, quase à velocidade da luz, diria, pois nunca se lhes conhece a origem, nem tão pouco o inventivo autor. À mínima "tragédia" (por vezes, sem aspas) que suceda, haverá sempre uma anedota a condizer. Nesse aspecto, o povo português é particularmente criativo, conseguindo transformar a matéria-prima da realidade, quase nunca sorridente, em potencial humorístico.
Em relação às expressões e palavras à la mode, podemos encontrar uma série de exemplos, sobretudo na linguagem dos órgãos de comunicação social (ou ficaria melhor dizer, os media, ou ainda na versão de Português do Brasil, a mídia?) e da política nacional.
Vejamos, então, alguns (por vezes, questionáveis) exemplares: as famosas "sinergias" que, basicamente, se enquadram em qualquer contexto, sendo "pau para toda a colher"; descobriu-se que, em vez de vermos, "visualizamos" ou "visionamos", o que é, de facto, uma grande vantagem, na óptica do utilizador; ficamos sem pinga de sangue com expressões do tipo "ao arrepio de" ou "em boa verdade" (esta última mais queirosiana); nunca perdemos o norte com a "conjuntura", a "contextualização" ou a "moldura" (influência da linguagem jurídica); ficamos algo desnorteados com o a necessidade de "balizar" e de encontrar uma "lógica" para tudo e mais alguma coisa, já para não falar da "sustentabilidade", que impõe sempre respeito ao mais desprevenido ouvinte e/ou leitor.
Numa outra frente, a língua portuguesa tem vindo a assimilar inúmeros anglicismos: upgrade, download, spread, downsizing, network, full board, etc. Hoje em dia, as empresas já não despedem, fazem downsizings, o que é, sem dúvida, muito simpático da parte destas. Por outro lado, a língua adapta termos (sobretudo) ingleses, convertendo-os em palavras, no mínimo, estranhas: as "facilidades" desportivas, o "ser suposto" qualquer coisa e tantos outros exemplos que provocam alguns arrepios a quem ainda acredite na língua de Camões.
No entanto, tal como acontece na moda, amanhã estas palavras já parecerão ridículas. Acredito que as "sinergias" não sobrevivam muito tempo.

Comentários

Rita Nery disse…
É a viding!!!Gostei muito do texto!!achei ainda mais piada às diferentes realidades, que cada um de nós, observa e com as quais se questiona!!Um Beijing muiting granding!!!
Anónimo disse…
Eu tive 23, eu tive 23 !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! O meu ego ia rebentando depois de fazer o jogo do vocabulário !!!!! Para além de lindo tb sou inteligente !!!!!!!!!!
* disse…
que seca zé fernandes

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