País (e Pais) de brandos costumes?














Há uma verdadeira onda de violência que percorre a sociedade portuguesa. Em silêncio. Mas que rebenta com a força de uma qualquer bomba impiedosa.
Essa violência existe nos lares de milhares e milhares de pessoas. Atente-se no número assustador de vítimas de violência doméstica. Em todo esse “cordão humano” – para usar uma imagem muito recorrente nos tempos “mundialescos” que se vivem em que só parece existir futebol e nada mais (pouco mudou desde o tempo dos famosos 3 éfes: “Fado, Futebol e Fátima”) – de Norte a Sul do país.
Carrascos com quem essas desesperadas vítimas partilham a mesma casa. Dormem, de facto, com o inimigo, amordaçadas por uma sociedade que prefere fazer de conta, que até se pode dar conta das marcas exteriores, não de riqueza, mas de profunda e declarada violência, mas que prefere não tomar uma atitude de condenação de tais actos brutais e hediondos. Fica em silêncio. Comme il faut.
A violência propaga-se também aos mais novos. Pais que espancam, sem dó nem piedade, que violam os próprios filhos, num crescendo de agressão sem limites. São inúmeros os rostos dos algozes, que não irão cessar de exercer a sua violência sobre mulheres, crianças, numa espiral alucinante de brutalidade e ódio. Que parece não acabar nunca.
A realidade está bem à vista de todos. Já se perdeu a conta de tantos casos de violência doméstica, de abuso de menores, de agressão verbal e física nos “pacatos” lares portugueses. A culpa morre, invariavelmente, solteira. Já se tornou um hábito perverso da nossa justiça injusta não condenar os carrascos, mas as vítimas.
Ontem recebi um e-mail que continha algumas "pérolas" dos pensadores de outrora a respeito das mulheres. Destaca-se o seguinte "rasgo de iluminação"extraído do Le Ménagier de Paris que consiste num tratado de conduta moral do séc. XIV:

"Quando um homem for repreendido em público por uma mulher, cabe-lhe o direito de derrubá-la com um soco, desferir-lhe um pontapé e quebrar-lhe o nariz para que assim, desfigurada, não se deixe ver, envergonhada de sua face. E é bem merecido, por dirigir-se ao homem com maldade de linguajar ousado."

Ora aí está um texto com tremenda actualidade em Portugal. Com a diferença de que esses inúmeros socos são desferidos na quietude de um lar. As paredes emudecem.
“País de brandos costumes?”Pois então.

Comentários

Anónimo disse…
Violência sempre houve e sempre haverá, não há quem a trave, porque o homem por natureza é um ser violento e será. As pessoas têm pena, até debatem inteligentemente sobre o assunto, mas não passam de palavras, interrompidas por temas bem mais interessantes como as "brigas de Ronaldinho e Merche" e por aí fora, é o facilitismo levado ao extremo da estupidez.
As vitimas estão e estarão sozinhas, até o homem dar-se conta de que se em tempos atrás tivesse feito isto ou aquilo, nada do que irá, espero que sim, acontecer, aconteceria.

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