Do Futebol como metáfora

Tentei evitar este tema a todo o custo, confesso, mas ocorreu-me um aspecto que me pareceu interessante debater.
(Geralmente, as pessoas com interesses intelectuais mais vastos tendem a ter uns certos pruridos em admitir que gostam de futebol. Tinha um Professor na Faculdade de Letras, em Lisboa, que para se defender de qualquer ataque imprevisto, alegava que “até o Ruy Belo gostava de futebol”. Outros apoiam-se no Albert Camus, que, além de existencialista convicto e de teorizar sobre a condição absurda do Homem, não resistia a uma partida entre 22 homens absurdos a correr de um lado para o outro).
Parece óbvio que o sentido nacionalista (na acepção positiva do termo) não se pode esgotar nos jogos da nossa Selecção. No entanto, um evento tão importante como o Mundial de Futebol, acaba por mover e mexer com as emoções ao máximo e de fazer ressaltar o sentido de pertença a uma nação e de união colectiva. Trata-se, em última instância, da identidade nacional e do desejo que nutrimos de esta se afirmar num palco globalizado e de triunfar, se possível.
Mas não foi possível e mais uma vez ficámos aquém da concretização de um sonho. Logo após a fatídica partida com os Gauleses, ouviam-se expressões como “morrer na praia”, “é o nosso fado”, entre outras. Os Portugueses têm uma característica deveras curiosa que consiste em oscilar, despudoradamente, entre uma crença cega na vitória e o mais absoluto derrotismo. Não somos um povo de meios-termos, de facto. Podemos acreditar, em simultâneo, e sem que isso nos cause qualquer problema de consciência, na possibilidade de alcançar o Olimpo e na inevitabilidade de um fim anunciado. Os deuses, infelizmente, não estiveram do nosso lado.
A grande metáfora que se extrai deste sentido de desilusão, mas também de profunda injustiça (a meu ver, Portugal e a Alemanha deviam encontrar-se na final, pois mereciam-no muito mais do que as equipas que efectivamente vão disputar a almejada taça) é a imagem do “quase”. No fundo, aquela ideia de sermos o país do “quase” está inconscientemente cravada em cada Português. Como naquele anúncio do Danoninho (passo a publicidade e o carácter prosaico do exemplo), “falta-nos um bocadinho assim”. Estamos sempre à espera do Messias, desse D. Sebastião que virá por entre as brumas da História, resgatando o sentido de orgulho nacional e de prestígio internacional, num mundo que teima em encarar-nos como uma “província de Espanha”. Pobre D. Afonso Henriques.
Fazendo de novo a ressalva de que o sentido nacionalista não se confina aos resultados da Selecção nacional - pois ter um sistema de saúde, de educação, de justiça e fiscal que, de facto, funcionem são razões muito mais importantes e decisivas do que as lides futebolísticas – creio que temos de nos orgulhar dos feitos históricos desta Selecção e do seu timoneiro. Estamos entre as 4 melhores Selecções do Mundo. Não é prémio de consolação. É um facto incontestável, uma vitória incontornável!
Agora temos de torcer para que Maniche seja considerado o Melhor Jogador do Mundial!
Vejo o jogo que se segue mais como uma partida amigável do que propriamente uma competição acérrima. Afinal, este é o Mundial “to make friends”! Esse, sim, deveria ser o jogo da final…
Vou já ler Ruy Belo para me redimir deste texto!... Ainda por cima longo!...

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