Geração enrascada

Já é célebre o epíteto que a geração mais nova recebeu nos idos dos anos 90, a denominada “geração rasca”.
Este nome sempre me provocou náuseas porque, além do tom ofensivo que a envolve, é demasiado simplista, demasiado contundente.
Creio, sim, que a nossa geração – daqueles que hoje estão perto ou na faixa dos 30 anos – é a geração enrascada que gostaria de se desenrascar para fazer face ao seu maior adversário: o desemprego.
O cenário é, de facto, desolador e as perspectivas não são particularmente animadoras. Já muita tinta correu sobre esta matéria, mas é revoltante constatar que há um autêntico exército de desiludidos que, ou não está integrado na força laboral activa, ou tem a sorte de estar a trabalhar, mas raramente na sua área de formação.
Não há quaisquer limites para a exploração a que se assiste hoje em dia, em que pessoal qualificado com licenciaturas, pós-graduações, mestrados, etc., tem de aceitar as regras da precariedade, auferindo salários medíocres e sentido na pele a frustração de não poderem dar asas aos seus projectos primordiais.
Não sou nada partidária da ideia de que deveria haver menos licenciados, pois o substrato do progresso de um país faz-se de matéria-prima qualificada, como se pode verificar nos países mais avançados da Europa. O investimento deveria concentrar-se na criação de emprego e, consequentemente, de riqueza.
Os raros casos de sucesso que se conhecem advêm da sorte de conhecer a pessoa certa no lugar certo – o terno Factor Cunha português – ou de arriscar num projecto individual, por sua própria conta e risco, mas para este último se concretizar é preciso suporte financeiro e para que este exista, é necessário trabalhar e por daí em diante… O incontornável círculo vicioso que adensa ainda mais este puzzle sem solução aparente.
Hoje sei que estou a trabalhar, mas amanhã?
Para esta geração enrascada, já não há promessas de “amanhãs que cantam”.
Cada vez concordo mais com a brilhante frase de José Cardoso Pires: “Portugal não é um país, é um sítio mal frequentado.”

Há dias em que gostaria de ter nascido em Helsínquia...

Comentários

Al Cardoso disse…
E de facto triste, mas compete a todos nos, modificar essa situacao.

Um abraco fornense.
Paulo disse…
Renegar a Pátria...lol????
Tão, portugal tem o Fado (Amália) o Futebol (Figo, Eusébio) e a fé (Fátima)...
óhhhhhhhhhhhh...
Também gostava de ter nascido no silêncio dos segredos...

Bjs
Paulo

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