Translating kills

Ontem estava eu a fazer um dos meus zappings improváveis (com este tempo, só me apetece ficar em casa, perdida em pensamentos a tentar traçar rumos para que as coisas façam sentido), quando deparo com um documentário/debate sobre os versículos de toda a discórdia: Os Versículos Satânicos de Salman Rushdie que, à luz dos tempos actuais, seria quase um livro-suicida.
Foi em 1993 que rebentou este caso bombástico e, a avaliar pelas imagens quase rarefeitas, em que se vê um ayatollah Komeini todo viçoso e um Rushdie completamente desgrenhado, e apanhado numa teia de fúria demagógica, parece já há uma eternidade.
Porém, tendo como exemplo a recente polémica das caricaturas de Maomé, os fundamentalismos exacerbados não esmoreceram. Muito pelo contrário, parecem ganhar um renovado fôlego, asfixiando por completo o princípio da liberdade de expressão.
Nesse documentário, o qual intercalava com um debate que contava com a presença do líder da comunidade islâmica portuguesa e de um especialista em História das Religiões, abordou-se a figura do tradutor e, neste caso concreto, dos tradutores de Rushdie pelo mundo fora.
Há dois cenários possíveis: ou não se fala dos tradutores sequer ou quando se fala, é sempre numa óptica extremamente negativa. (o eterno discurso do tradutor/traidor e da impossibilidade de tradução, da perda irreparável em tradução, etc., etc.)
No entanto, neste documentário, o ardiloso ofício da tradução aparecia envolto em contornos mais letais. O tradutor norueguês dos Versículos Satânicos tinha sido alvejado, o tradutor italiano esfaqueado e o tradutor japonês acabara mesmo por perecer às mãos de um louco que se sentia lesado pela obra de Rushdie.
Afinal, a tradução, além de ser completamente votada à total indiferença (só quem nunca traduziu é que não sabe que podemos andar semanas a fio a tentar encontrar a tradução perfeita (?) de apenas uma palavra que nos parece tão óbvia, mas…), de ser mal paga (sempre tarde e a más horas, quando o é), pode ser uma profissão de risco!
Devia desistir do meu sonho ou resistir e construir um bunker?...

Comentários

Al Cardoso disse…
Sera que em Portugal tambem ha perigo?

Espero que consigamos parar, esta onda islamica, senao mal mas mesmo muito mal para a Europa.

Bom fim de semana.
Rita Nery disse…
Desculpa a intromissão mas não resisto.
al cardoso é impressão minha ou estás sempre em tudo quanto é sítio? Comento isto porque fazes-me rir, de cada vez que abro um blog, os comentários...lá estás tu!
Representas na perfeição a minha teoria de que os portugueses estão sempre em todo o lado, basta ver o noticiário!!Tudo o que é atentado, tempestades...ainda agora caíu um aviâo na Amazónia, com 155 passageiros, 5 dos quais conseguiram sobreviver...advinha quem lá ía?? Um português...
Mas fazes bem, continua a estar em todo o lado!
Vica disse…
Construa um bunker e continue traduzindo. Beijos.
portuguessuave disse…
Ana cota?? Cota aos 28 eheh? e eu? do alto dos meus 43?? mas continue, gostei dos seus regateios..construtivo, de facto..não como alguns blogues que são do bota abaixo ehehe

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