verde código verde


Tenho saudades daquelas lojas de antigamente, em que éramos tratados como se fossemos herdeiros de um vasto império, em que as pessoas olhavam fundo nos nossos olhos e em plenos pulmões, nos desejavam um saudável “bom dia” que ecoava dia fora.
Há dias fui a uma dessas lojas muito antigas, dominadas pela madeira escura, como que mergulhadas numa escuridão acolhedora. Daquelas lojas que ainda não têm Multibanco e que nos “obrigam” a andar uns irrelevantes metros para ir levantar dinheiro (hoje em dia, os cartões Multibanco são como que uma extensão dos nossos dedos, já não concebemos a vida pré-telemóvel, pré-ATMs, pré-Internet. A vida antes deles parece apenas um episódio improvável de tão obsoleto). Mas vale a pena. Adquirem-se peças de qualidade e mais importante ainda, faz-se uma autêntica viagem no tempo e abrimos a porta a um universo de nostalgia que nos embala docemente.

(Em Alemão, há uma expressão muito engraçada para a loja de bairro ou loja de esquina – uma daquelas expressões intraduzíveis porque muito específicas de uma cultura – “Tante-Emma-Laden”, que traduzido à letra seria “a loja da tia Ema”. Nós por cá temos o Mestre André que, infelizmente, se tornou uma espécie em vias de extinção.)

Abomino a simpatia asséptica e artificial dos regimentos de bonecos robotizados que nos tentam convencer de que ficamos bem com qualquer indumentária (quando se dão a esse trabalho), para depois nos brindarem com o “verde código verde” da praxe, num insuportável tom de desprezo. Seguinte. Já não há 34.

(E aquela música detestável que nos impõem numa ditatura massificada própria de um mundo globalizado continua a tocar, em altos berros...)

Comentários

JL disse…
Olá amiga. Aqui está um belo texto, extraído da lucidez que te caracteriza. Ainda ontem conversava com um amigo sobre esse assunto e ele, com ironia, dizia-me que estamos na era do "me to". Todos somos uns "me to". E dava um exemplo: "eu tenho um fato igual àquele da montra" e logo a resposta do interlocutor se fazia ouvir: "me to".

Um beijo de saudades
Rita Nery disse…
Dá-me vontade de escrever um livro como comentário a este texto...tu sabes bem porquê!Sabes, as pessoas que gerem ou trabalham nestas lojas de hoje que vestem todos e não vestem nenhum em particular, é que me impressionam e fazem rir. Já lá vai o tempo em que para se ser bem educado era preciso vir-se de um "berço de ouro", agora já não é assim, só não é formado quem não quer, ou melhor quem não tem capacidades para tal, e aqui não está implicito o dinheiro, mas os valores, os principios, na nossa formação este não entra, nem ajuda...Portanto posso concluir de antemão que só pode estar mesmo relacionado com a estupidez própria do ser humano que caracteriza tantos que se dizem iguais.Porque insistem em igualar as pessoas enquanto vivas? Sim, porque quando morremos "borramo-nos" todos, no sentido literal da palavra, bem mas não vou por aí...
É muito perigoso colocar poder, a quem nunca o teve sobre ninguém, e tanta gente já o teve sobre si mesmo. Quando pessoas deste calibre se vêm numa posição superior, esquecem-se de quem são, parece que ficam loucas,esquecem-se de onde vieram e das suas raízes, e não olham a meios para chegar a fins...a vaidade em poder mandar descontrola-se para a vaidade em saber humilhar...desta situação só são tremendamente humilhados aqueles que humilham, porque até para isso é preciso ter-se inteligência, formação.
Não é um palavrão que humilha uma pessoa inteligente, o mais humilhante é isso poder acontecer numa sociedade dita normal. O que não será o caso da nossa, onde os médicos andam a trabalhar nas obras, e os pedreiros a dar consultas médicas...Está tudo trocado!Há alguém, ou alguns que mereciam receber um forte aplauso por esta proeza, nem eu conseguiria fazer tal.Ridiculo.
E é melhor ficar por aqui, não vá ser alvo de más interpretações.
Beijinhos muitos!!!

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