Pontuando

Penso com pontuação. A minha cabeça enche-se de pontos de interrogação, de exclamação, de vírgulas incessantes, que pululam por todo o lado e eu ali no meio de todo aquele caos de pontos e mais pontos, tentando perceber até que ponto isto será normal. Tenho tudo tão meticulosamente estruturado, com a precisão de um relojoeiro suíço (provavelmente os únicos que chegam a tempo quando ainda se vai a tempo de alguma coisa), que fico perplexa quando só vejo reticências à minha frente e também o rosto atónito do meu interlocutor que vê apenas a minha expressão imóvel. Nessa fracção de segundo, nessa troca de perplexidades, lá ando eu, de gatas, à procura de um outro sinal de pontuação que coroe de êxito as minhas palavras reflectidas. Mas em vão, por momentos, só esses três pontinhos que apontam para o infinito parecem adequados. É difícil encontrar um ponto final em termos nos dias de hoje. Os travessões já nem se usam sequer, são verdadeiramente anacrónicos. Os pontos de exclamação e de interrogação actuam com rapidez e vão directamente ao ponto. Tudo redunda em pontos, de preferência, nessas eloquentes reticências que nos abrem o horizonte de todas as coisas que podem ser ditas sem o serem verdadeiramente.

Comentários

Rita Nery disse…
Considero-me uma rebelde em relação à pontuação, mas cada vez mais me aperecbo qeu não sou assim tão rebelde...simplesmente é dfícil usar uma virgula quando as palavras correm no pensamento como o sangue corre nas veias, quando para mim tudo faz sentido sem elas...a nossa vida não tem virgulas nem pontos finais, talvez porque nunca acaba...a vida só faz sentido só tem beleza com reticêcias...até mesmo a simples palavra: Amo-te...

P.S.-E não, não estou a abichanar:)
Al Cardoso disse…
... nao fiquei desapontado com tanto ponto!!!

Um texto e ponto... prontos.

Um bom final de ano e melhor 2007.

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