Do fim da Poesia?

Como dizia o outro: "It's the economy, stupid!". A Poesia integra a nossa essência, porém, percorre os subterrâneos filamentos do ser e os compartimentos da alma. E ela ainda vive, respira e ecoa. Imponente. Enquanto houver pessoas que se deixem fascinar pelo poder colossal do Verbo e pelos "pequenos nadas": um lânguido pôr-do-sol, quase eterno, o sorriso de uma criança, uma brisa apaziguadora, a pureza dos afectos, o cheiro da terra molhada no Verão, a chuva que, insistente, cai lá fora, adocicando a doce letargia da tarde. Porque a Poesia não se faz unicamente de signos, mas de imagens que habitam o quotidiano. Só que, por vezes, estamos demasiado cegos, ocupados, assoberbados. Com números.
"De manhã escureço/ De dia tardo/ De tarde anoiteço/ De noite ardo." (Vinicius de Moraes)
Comentários
E no entanto que seria de nós sem eles? Da identidade no bilhete ao telefone que quero fazer tocar, da cadência tripla da valsa ao quarteto de cordas (ou de jazz, por mim), da diferença do - ou + no termómetro, ou da mesma no saldo do cartão.
E depois, se não nos agradam, ainda inventamos que são bonitos. Que sete é melhor que nove. Que dois é mais número que cento e vinte e quatro.
Sem os números, como pensaríamos a individualidade? E como contaríamos a métrica de um poema? Não há volta a dar-lhe. São produtos da imaginação humana que nos ajudam ver e a interpretar o mundo. Como a poesia.