And the Oscar goes to...

Acho que nunca mais vou olhar para o John Wayne da mesma forma...
A segunda colisão foi o facto de, contrariamente às expectativas iniciais, o filme de Ang Lee não ter conseguido arrebatar os Óscares para que estava nomeado (ganhou 3 Óscares, ao invés de 8), colidindo de frente com "Crash". Colisão, de seu nome. Este filme interessante trata de outro tema controverso e pungente na sociedade americana: o racismo, mas não apenas o clássico confronto entre brancos e negros, mas todo o racismo que envolve asiáticos, árabes, latinos, etc e os estereótipos que se colam às pessoas, como se de uma sentença de morte anunciada se tratasse. O filme é composto por toda uma série de micro-histórias, de pequenos azulejos, que se vão encaixando num "puzzle" mais lato. O palco é Los Angeles, uma bomba relógio prestes a explodir, tal a dimensão avassaladora da tensão que consome os seus habitantes, em permanente rota de colisão. A banda sonora do filme é simplesmente perfeita, pois evoca a atmosfera de melancolia e de declarada ausência de esperança nesse cenário dantesco em que as pessoas já "não se tocam", como afirma, no início do filme, a personagem interpretada pelo magistral Don Cheadle (igualmente soberbo em Hotel Ruanda).
Não poderia deixar de mencionar o merecidíssimo Óscar atribuído a Philip Seymour Hoffmann pelo seu papel avassalador em Capote. Tal como disseram os críticos nova-iorquinos: "Só se a Terra for atingida por um meteorito é que Philip Seymour Hoffman não ganhará o Óscar de Melhor Actor". Para bem de todos, não fomos atingidos por qualquer meteorito e Philip Seymour Hoffmann ganhou o seu Óscar. Fomos atingidos, sim, pelo seu desempenho notável em Capote. As palavras afiguram-se irremediavelmente escassas para descrever o rol de sensações que a sua interpretação sobre-humana despertou. O livro de short stories do Capote está na mesinha-de-cabeceira, à minha espera...
Comentários