O animal político lusitano


Este texto não tem qualquer objectivo propagandístico ou panfletário de apoio ao presente governo da nação (sendo certo que sou insuspeita para falar, pois o meu voto nas anteriores legislativas não recaiu sequer sobre o Partido Socialista), mas pareceu-me importante reflectir sobre um ponto crucial que diz muito acerca da arte (ou da falta dela) de fazer política em Portugal.
Por incrível que pareça, parece que, pela primeira vez na História, temos um governo que quer, de facto, governar! Caso estranho.
Por ironia, as ditas classes dirigentes pouco ou nada dirigiam, excepto o seu próprio interesse, remetidas à esfera da total inoperância e disfuncionalidade.
O político era aquele ser bem-falante, altivo, recheado de pergaminhos (tanto melhor!) e de palavras eruditas que tudo diziam sem nada dizer que ia traçando o seu percurso, a sua carreira, guiado pela ambição e, sobretudo, pelo sentido de imediato, pela maldição do curto-prazo, sem se preocupar em ver mais além, em trabalhar afincadamente em nome das gerações futuras.
Os anos iam passando e, de (des)governo em (des)governo, a desconfiança ia-se adensando cada vez mais, gerando-se uma certa sensação de ingovernabilidade de um país. O caso do abandono de Durão Barroso foi disso magistral e tristíssimo exemplo.
Contudo, hoje em dia sente-se uma onda de energia e de expectativa muito grande em torno do governo de Sócrates – será do seu interessante nome de filósofo?! – e do projecto que o Executivo tem para a nação. O país havia caído num fosso imenso, verdadeiramente insustentável, pelo que o cenário e, acima de tudo, a atitude teriam de mudar.
Há inúmeros exemplos dos passos positivos que este governo está a dar, como seja o tremendo investimento que se está a captar para Portugal (Bill Gates é incontornável, sem dúvida, e o desenvolvimento do Centro de Língua Portuguesa em parceria com a Microsoft) através de acções no exterior junto de potenciais investidores; o Cartão Único; o Simplex; o combate acérrimo à burocracia e a uma máquina pesadíssima e carunchosa; a Empresa na Hora; o anunciado investimento na Ciência e na Tecnologia no próximo Orçamento de Estado, para mencionar as mais apelativas.
Se das palavras se vai passar aos actos, só o tempo o dirá com propriedade. No entanto - e repito-o, mesmo não perfilhando o ideário político do partido que está no governo - creio que esta força positiva que se sente poderá ser muito benéfica para devolver às pessoas a confiança nos políticos e nas classes dirigentes.
Será que é desta que Portugal apanha o comboio do desenvolvimento (aproveito a generosa imagem ferroviária)? A recém-chegada República Checa já vai à nossa frente...
Pela primeira vez, parece que os maquinistas têm um rumo definido, evitando apeadeiros desnecessários. Ver para crer.

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