O Fiel Jardineiro














Há algo de indecifrável no último filme do cineasta brasileiro Fernando Meireles: The Constant Gardener que conta com a participação magistral de Ralph Fienes e Rachel Weisz (que ganhou o Óscar de Melhor Actriz Secundária).
Rodado quase exclusivamente no Quénia profundo (salvo algumas cenas em Londres e Berlim), este inquietante filme – muito na senda de Hotel Ruanda, por exemplo – tematiza a total negligência/indiferença do Ocidente perante a tragédia de milhares e milhares de africanos que perecem todos os dias, neste caso às mãos de indústrias farmacêuticas que os usam como cobaias.
Justin (Ralph Fienes) e a carismática (e muito revolucionária) Tessa partem para África, decidindo aí construir o seu país. Justin é um amante fervoroso da flora e, onde quer que se encontre, edifica à sua volta jardins luxuriantes nos quais se perde para o mundo e para a realidade. Tessa, por sua vez, tem os pés bens assentes na terra e luta fervorosamente pelos seus ideais. A sua grande bandeira era lutar contra os gigantes da farmácia que, sedentos de monopólio de mercado, faziam testes nos habitantes locais que, encurralados na sua miséria inimaginável, cediam sem ter outra opção.
O filme The Constant Gardener questiona permanentemente toda a dimensão do “parecer”, do que está apenas à superfície. Nem tudo o que parece é. E assim o é neste filme. O que parecia ser uma relação bizarra entre Justin e Tessa (ela vivia para a defesa acérrima dos seus ideais, ele para as plantas) acaba por se revelar uma tremenda história de amor, reforçada post mortem, saliente-se. O que parecia ser a bonomia do Ocidente perante as carências médicas da miserável população queniana não o era.
O espectador é convidado a percorrer labirintos impensáveis e a tecer aos poucos a verdade subterrânea dos factos. A excepcional banda sonora transporta-nos para uma dimensão longínqua habitada por pessoas que não podem vislumbrar qualquer horizonte, despojadas de tudo, vítimas de um Ocidente que as crucifica enquanto apregoa os grandes valores civilizacionais. O eterno fardo do homem negro…

Comentários

Anónimo disse…
Ora cá vim dar uma espreitadela, e lá me deparo com uma opinião acerca do Fiel Jardineiro. Palavras para quê, é um filme poderoso e grandioso em todos os sentidos. Deixo apenas uma pequena correção, a Rachel Weisz ganhou o oscar de melhor actriz secundária e não de melhor actriz (que foi ganho pela Reese Witherspoon)
Maria Cota disse…
Obrigada pelo comentário! Já fiz a devida correcção!

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