Post vitam

Como seria uma vida sem morte?Apegamo-nos com tanto fervor à vida, tentando ludibriar o facto mais certo que se nos apresenta: a morte. A existência é feita de pequenas ilusões: as glórias momentâneas, as desilusões, o sofrimento que parece um fardo eterno, as alegrias, os projectos, as expectativas. De um momento para o outro, com a leveza de um sopro, tudo se desmorona e relativiza. O sentido da vida é precisamente não fazer sentido algum.
Creio que o fluir do Tempo torna cada vez mais presente a noção da finitude. Na adolescência, estamos mais centrados em questões do foro afectivo, numa eterna bipolaridade entre aceitação/rejeição. A morte nem sequer é tema ou preocupação. Porém, os anos vão passando e, pelo caminho, vão-se perdendo as pessoas que integram o nosso universo: deixam de conversar e de rir connosco, tornam-se etéreas, estranhos habitantes de uma dimensão misteriosa e longínqua.
Mas como seria uma vida sem morte? Provavelmente, muito mais insustentável do que uma vida iluminada pela certeza de um desenlace. Os corpos iam-se degradando e, com eles, as relações humanas. Tornar-nos-íamos insuportáveis, carregando o insustentável peso do ser. A imortalidade seria um lugar estranho, inabitável, em que já existiriam quaisquer regras de cortesia e de diplomacia. A verdade subia irremediavelmente à tona e o ser humano teria como destino inevitável uma solidão eterna...

Comentários

JL disse…
Não podia estar mais de acordo contigo Ana. Realmente não quero imaginar como seria se fossemos imortais.
Como alguém diria: Há pessoas que morrem sem terem vivido e outras que vivem sem pensar que um dia morrerão.

Um beijinho

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