“Missão dada é missão cumprida”

O filme brasileiro “Tropa de Elite” revolve-nos as entranhas e deixa um rasto de inquietação inevitável. A imagem que ressalta do Rio de Janeiro é bem diferente daquela que surge nas brochuras turísticas e nas novelas recorrentes. De maravilhosa, essa outra cidade real não tem nada.
Na senda do excelente cinema brasileiro – centrado nas problemáticas sociais, comprometido com a realidade, sem nunca descurar um certo humor corrosivo, mas necessário dada a complexidade e a seriedade das situações retratadas – “Tropa de elite” acompanha, num plano mais imediato, o percurso de um polícia obstinado que singrou e sobreviveu, mas que, ao mesmo tempo, é frágil, se questiona e sofre constantes ataques de ansiedade. Posto desta forma, parece que este polícia, o Nascimento, é uma espécie de Woody Allen sob uma capa de Rambo, mas não se distancia, de facto, dessa dilacerante ambiguidade. Por outro lado, o filme descreve, num plano mais lato, o difícil e moroso processo de formação dessa temível força de elite.
As BOPE são forças policiais que irrompem pelas favelas, no combate ao tráfico de droga e à corrupção. Nesse mundo de violência extrema, os métodos aplicados também são os mais brutais, em que todos os meios se justificam.
Nesse sentido, o filme é eloquente e desenha um retrato cru da realidade, em nada auspiciosa. O círculo vicioso da droga, da corrupção, da violência, da promiscuidade entre polícias e traficantes, da morte iminente e da total ausência de valor da vida humana parece avolumar-se, adensar-se e não se extrai qualquer laivo de esperança.
No plano do indivíduo que tem como missão principal liderar este verdadeiro exército e incutir nessa horda de guerreiros destemidos o espírito da invencibilidade, o dilema ganha contornos trágicos. A vida “normal” sofre as duras consequências, sendo quase hercúleo ter uma família, um habitat e deixar para trás a brutalidade de um quotidiano tingido de sangue e de desencanto.
A cidade do Rio de Janeiro vive diariamente uma autêntica guerra civil. A dada altura, no filme, fala-se de um permanente “equilíbrio entre as munições dos bandidos e a corrupção dos polícias”. Estas premissas não são propriamente as mais promissoras…
Um filme a não perder, com interpretações brilhantes, sobretudo do protagonista Wagner Moura.

Comentários

Jaymz disse…
É sem dúvida alguma um filme muito bom, que mostra uma realidade triste, dura e violenta.
Já agora, e a título de curiosidade, este filme ganhou o Urso de Ouro, no Festival de Cinema de Berlim.
Anónimo disse…
Bem... comentar... comentar eu não quero comentar... estou ciderada!!!

É que Ana Cota... sou eu... é curioso... por isso vim espreitar... eu chamo-me mesmo Ana Cota...

É tão estranho
Unknown disse…
Não é de hoje que a cidade do Rio de janeiro vive num clima de guerra flagrante e que a população se encontra entre balas perdidas, discursos repisantes das autoridades e as notícias de uma grande mídia corrosiva e degradante. O filme parte da realidade que aqui, no Rio, vivemos, principalmente os moradores das favelas. Todavia, temos que tomar cuidado com as análises que podemos fazer do mesmo. Aqui no Brasil o filme tem despertado muita polêmica, não porque ele minta, pelo contrário, a corrupção, a violencia, a tortura são recorrentes e reais; o que levanta discussões é o ponto de vista que o diretor, José Padilha, apresenta no filme. É inegável que ele "humanizou" o capitão Nascimento fazendo com que muitas pessoas se identificassem com ele e até, assim, vejam justificados os seus atos, mesmo os mais violentos. O que quero dizer é: o filme mostra uma realidade veridica, porem, mostra a partir de determinado ponto de vista que deve ser muito bem discutido. O filme se passou tendo como cenário o ano de 1997, ou seja, a 10 anos atrás. e hoje? hoje o BOPE sobe as favelas do Rio com um carro blindado chamado de "Caverão". O carro amendronta tanto os moradores quanto as crianças da comunidade. Assusta porque todos sabem que a policia do Rio de Janeiro, pode ser o BOPE ou a policia comum, quando sobe na favela é para matar ou melhor "para deixar corpo no chão".
De fato o capitão Nascimento que na verdade se chama Rodrigo Pimental no ano mesmo de 1997 saiu da policia e foi se dedicar a área de cinema; numa entrevista gravada em um documentário feito antes do filme ele dizia de fato que não via nenhuma esperanças para a questão do tráfico no rio de janeiro.
O cinema brasileiro vem produzindo grandes filmes que tematizam as questões nascionais, porem, mais de 60% dos filmes aqui produzidos não passam nos cinemas, mas tão somente em pequenos festivais e centro culturais.
enfim, Wagner Mourar, bem como, Lázaro Ramos são grandes nomes do novo cinema brasileiro.
Infelizmente, a violencia na cidade do rio de janeiro se tornou algo tão recorrente que muitas pessoas aceitam-na como algo natural e, por isso, sequer qeustionam o que vem, a séculos, produzindo tamanha violencia e, principalmente, se mostram incapazes em pensar numa sociedade menos injusta e desigual.

um abraço,

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