Hino ao saudosismo ou como sobreviver a MacGyver

Não consigo disfarçar um sorriso de satisfação quando ouço aquelas músicas que preencheram a minha adolescência e acho que daria um pulo de contentamento se, de repente, anunciassem na RTP1 que o MacGyver iria voltar aos ecrãs. A figura daquele herói dos anos 80 habitará para sempre o nosso imaginário pela destreza com que derrubava todos os obstáculos, fazendo uso do seu milagroso canivete suíço. MacGyver era um hino ao pragmatismo, um homem de carne e osso, sem quaisquer super poderes que nos fazem bocejar pela improbabilidade, que punha literalmente a mão na massa e que (pasme-se!) até despertava em nós o interesse pelo admirável (e não menos penoso) mundo novo da Físico-Química! Era uma verdadeira emoção acompanhar aquelas aventuras electrizantes e ainda hoje consigo trautear a melodia do genérico!
E se fosse possível (re)viver um desses dias remotos dos idos de 90? Como se de uma viagem no tempo se tratasse? Numa espécie de “Adeus Lenine” à portuguesa?
Gostaria de voltar a sentir aquele cheiro a Verão e a terra molhada que hoje já se perdeu por completo (chama-se a isto velhice, achar que já não há estações do ano decentes!); de ficar na rua até às tantas; de chegar a casa com os joelhos esmurrados; de ficar a falar ao telefone com as amigas horas a fio enquanto a minha mãe resmungava num doce pano de fundo; daqueles lanches intermináveis que eram a recompensa por longas tarde de estudo; de comer panikes no bar do liceu ou de ir ao Girassol comprar croissants de chocolate; de debater exaustivamente os porquês das desilusões de amor e de chorar baba e ranho como se não houvesse amanhã; de ir de autocarro para o Day After e de regressar mal o dia despontasse…
O tempo passa, amadurecemos, traçamos novos trilhos, a vida adquire novos contornos e já só falamos com os amigos de outrora através do Messenger ou por sms. Já não há lanches nem conversas intermináveis.
A distância pode instalar-se, mas as recordações e o poder dos afectos permanecerá agarrado à pele, como um sinal de nascença. E essa é a beleza de qualquer regresso ao passado, dessa viagem que termina sempre em “happy end”, num sorriso de indisfarçável satisfação.
E por que diabo me lembrei agora do MacGyver? Provavelmente porque hoje é domingo, dia muito propenso à terna doçura do saudosismo que se entranha em nós e teima em não querer sair.
Como é que o MacGyver resolveria isto?;)
Comentários
Achei piada também como de uma série telivisiva salataste de uma forma absolutamente doçe para a tua adolescência, mais precisamente para o liceu...
É domingo...é o saudosismo de domingo...
Beijinhos Miga
Rita Nery
Beijinhos, amiga!
mary
Muito, sim, apreciei o seu texto. :-) É bastante colorido. E no meio de tanta cor, não perde o desenho da história. Preserva a solidez do discurso. Começa com o MacGyver e, depois de um passeio de borboleta nas asas do tempo, volta para o MacGyver. A partir de pinceladas tão diversas consegue construir uma bela e unitária pintura de palavras!
E falando de unidade, lembrei-me da Única, a revista do Expresso, e aproveito para lhe agradecer ter-se lembrado de me transmitir a notícia sobre graffitis. Já localizei a notícia na net:
http://clix.semanal.expresso.pt/unica/vidas.asp?edition=1849&articleid=ES286383&subsection=
É bem interessante! Algumas daquelas pessoas eu conheço pessoalmente, somos todos mais ou menos da mesma geração. É, por exemplo, na loja do Babak que actualmente compro a maior parte das minhas tintas. :-)
Um grande abraço!