Sei de um fado
Com o último álbum de Camané (para mim, o maior fadista português) - Sempre de mim - como banda sonora deste texto, não pude deixar de sentir uma forte comoção que veio à superfície pela terna poesia das letras, pela crueza da voz quente e pela nostalgia que, invariavelmente, salpica qualquer fado.
Nacionalismos à parte, o fado espelha, na perfeição, a essência da identidade portuguesa: a ânsia de uma felicidade que partiu e que já não se poderá reaver; a saudade infinita e lírica de memórias passadas, de instantes de fugaz contentamento, de um sofrimento que paira sobre nós como um fantasma que insiste em permanecer no baú empoeirado; da nostalgia que languidamente nos consome e em cuja angústia sentimos um estranho prazer e da saudade, a eterna saudade, do que foi e já não volta a ser.
Há, de facto, uma nova geração de fadistas que enveredam por registos ora mais inovadores, introduzindo instrumentos diferentes e sonoridades ousadas, ora mais ortodoxos, seguindo o trilho do fado mais conservador. Por mais diversas que sejam as roupagens, o fado será sempre a expressão eloquente de um estado de alma muito peculiar e de uma tendência muito portuguesa e não menos masoquista para uma certa auto-comiseração, como se a dor fosse mesmo inescapável.
Há dias, na viagem de regresso de Lisboa, ouvia a conversa de umas senhoras no autocarro que vieram, literalmente, o caminho todo a falar de doenças, desgraças e afins. Essa é, lamentavelmente, uma característica muito portuguesa. As pessoas nunca dizem que estão bem-dispostas, que o dia está a ser fantástico. "Vão andando como Deus quer" e nunca tomam as rédeas do próprio destino, nem sequer tentam ver a realidade com optimismo e espírito positivo.
A saudade, o fado, o messianismo, a nostalgia, enfim, todos estes vectores ajudam a moldar a identidade nacional, mesmo que habitem os confins subterrâneos do nosso sub-consciente colectivo.
Se assim não fosse, não estaria a ouvir fado e a sentir um prazer indescritível em toda esta poesia que por aqui anda à solta. Não sou sueca, ora bolas!:)
Nacionalismos à parte, o fado espelha, na perfeição, a essência da identidade portuguesa: a ânsia de uma felicidade que partiu e que já não se poderá reaver; a saudade infinita e lírica de memórias passadas, de instantes de fugaz contentamento, de um sofrimento que paira sobre nós como um fantasma que insiste em permanecer no baú empoeirado; da nostalgia que languidamente nos consome e em cuja angústia sentimos um estranho prazer e da saudade, a eterna saudade, do que foi e já não volta a ser.
Há, de facto, uma nova geração de fadistas que enveredam por registos ora mais inovadores, introduzindo instrumentos diferentes e sonoridades ousadas, ora mais ortodoxos, seguindo o trilho do fado mais conservador. Por mais diversas que sejam as roupagens, o fado será sempre a expressão eloquente de um estado de alma muito peculiar e de uma tendência muito portuguesa e não menos masoquista para uma certa auto-comiseração, como se a dor fosse mesmo inescapável.
Há dias, na viagem de regresso de Lisboa, ouvia a conversa de umas senhoras no autocarro que vieram, literalmente, o caminho todo a falar de doenças, desgraças e afins. Essa é, lamentavelmente, uma característica muito portuguesa. As pessoas nunca dizem que estão bem-dispostas, que o dia está a ser fantástico. "Vão andando como Deus quer" e nunca tomam as rédeas do próprio destino, nem sequer tentam ver a realidade com optimismo e espírito positivo.
A saudade, o fado, o messianismo, a nostalgia, enfim, todos estes vectores ajudam a moldar a identidade nacional, mesmo que habitem os confins subterrâneos do nosso sub-consciente colectivo.
Se assim não fosse, não estaria a ouvir fado e a sentir um prazer indescritível em toda esta poesia que por aqui anda à solta. Não sou sueca, ora bolas!:)
Comentários
Beijinhos
Rita Nery
:-)
:-))))
E para quem ama Lisboa, ele personifica a voz da cidade, das ruelas de Alfama, da magia das noites sombrias, das vielas mais recônditas, em suma, de uma beleza indescritível que só se sente em Lisboa e que se crava em nós para sempre!
E tudo é mais belo a preto e branco:)
Achei curiosa a tua observação em relação à minha escrita e ao facto de ter tudo em ordenado por "gavetinhas" e, apesar de nunca o ter verbalizado, sempre senti essa obsessão de organização, antes de escrever um texto. Tudo tem de fazer sentido. Não escrevo um texto sem pensar primeiro no título e só a partir daí é que me lanço à aventura das palavras!...
Obrigada pela tua simpatia e, sobretudo, pelos teus comentários sempre perspicazes, profundos e plenos de sensibilidade e de lirismo!:)
Um abraço,
Ana
Beijinhasssssss mil e quinhentas e mil
Rita Nery
P.S.- mas continuo a querer ser sueca:)