Divinos remédios

Sorvi o último romance de Mia Couto - Venenos de Deus, Remédios do Diabo - de um só trago e fiquei sequiosa da imensa poesia que habita a escrita deste autor.
Sidónio Rosa, médico português, apaixonara-se pela bela Deolinda que conhecera num congresso em Lisboa e que, entretanto, se esfumara por entre as memórias de um amor fugaz mas ao mesmo tempo perene.
Decide então viajar até Vila Cacimba na demanda de Deolinda e enquanto espera pelo seu regresso dá assistência ao pai de Deolinda, o moribundo e hilariante Bartolomeu Sozinho, marido da eloquente Dona Munda que tinha sempre uma resposta poética na ponta da língua e que sabia decifrar com perspicácia os insondáveis mistérios da existência e dos afectos.
Todavia, em Vila Cacimba tudo é etéreo e indefinido como a neblina que separa esta vila do mundo e da realidade palpável. É uma espécie de Macondo, palco dos acontecimentos mais inverosímeis, pincelados ao sabor de um realismo mágico que atravessa todas as latitudes. Ali as flores depositadas nas jarras transformam-se em mãos humanas e as flores do esquecimento abatem-se pela vila, numa ameaça de desaparecimento iminente, riscando para todo o sempre as estórias que aí se desenham e se entrecruzam.
Percorremos sofregamente as páginas na demanda de Deolinda, de respostas, mas surgem sempre mais dúvidas e cedo se percebe que a verdade se faz de ardilosas mentiras, numa teia interminável. Nada é o que parece. Poderá a realidade não passar de um sonho fugaz? Terá tido essa viagem de Sidónio um ponto de partida?...
Não poderia deixar de registar aqui umas das passagens mais belas do livro, em que se define a essência do Amor:
Nessa noite se solveram, mãos de oleiro, salvando o outro de ter peso. Nessa noite, o corpo de um foi o lençol do outro. E ambos foram pássaros porque o tempo deles foi antes de haver terra. E quando ela gritou de prazer, o mundo ficou cego: um moinho de braços se desfez ao vento. E mais nenhum destino havia.
Mestre da reinvenção da língua (em minha opinião autor intraduzível, porque a beleza da língua que ele criou só faz sentido com o Português como pano de fundo), Mia Couto joga com as palavras e redescobre a pureza e o mistério original das palavras. Utilizando um adjectivo por si criado, é uma escrita “abensonhada”...
Decide então viajar até Vila Cacimba na demanda de Deolinda e enquanto espera pelo seu regresso dá assistência ao pai de Deolinda, o moribundo e hilariante Bartolomeu Sozinho, marido da eloquente Dona Munda que tinha sempre uma resposta poética na ponta da língua e que sabia decifrar com perspicácia os insondáveis mistérios da existência e dos afectos.
Todavia, em Vila Cacimba tudo é etéreo e indefinido como a neblina que separa esta vila do mundo e da realidade palpável. É uma espécie de Macondo, palco dos acontecimentos mais inverosímeis, pincelados ao sabor de um realismo mágico que atravessa todas as latitudes. Ali as flores depositadas nas jarras transformam-se em mãos humanas e as flores do esquecimento abatem-se pela vila, numa ameaça de desaparecimento iminente, riscando para todo o sempre as estórias que aí se desenham e se entrecruzam.
Percorremos sofregamente as páginas na demanda de Deolinda, de respostas, mas surgem sempre mais dúvidas e cedo se percebe que a verdade se faz de ardilosas mentiras, numa teia interminável. Nada é o que parece. Poderá a realidade não passar de um sonho fugaz? Terá tido essa viagem de Sidónio um ponto de partida?...
Não poderia deixar de registar aqui umas das passagens mais belas do livro, em que se define a essência do Amor:
Nessa noite se solveram, mãos de oleiro, salvando o outro de ter peso. Nessa noite, o corpo de um foi o lençol do outro. E ambos foram pássaros porque o tempo deles foi antes de haver terra. E quando ela gritou de prazer, o mundo ficou cego: um moinho de braços se desfez ao vento. E mais nenhum destino havia.
Mestre da reinvenção da língua (em minha opinião autor intraduzível, porque a beleza da língua que ele criou só faz sentido com o Português como pano de fundo), Mia Couto joga com as palavras e redescobre a pureza e o mistério original das palavras. Utilizando um adjectivo por si criado, é uma escrita “abensonhada”...
Comentários
Todas as palavras que descrevem o amor são lindas. Não são muitas...há quem julgue que a palavra amar se pode usar quando nos bem apetece...a palavra amar é muito forte e são poucos os afortunados que conhecem o seu verdadeiro sentido.
São palavras lindas de serem lindas e talvez transpostas:)
Beijinhos
Rita Nery
Num post anterior tenho a recordação de teres elogiado o humor. Acho que o humor é uma espécie de variação do amor. É o amor divertido. Quem não sente algum tipo de amor dentro de si, acho que também não é capaz de rir, vive amargurado e ressentido.
Viva o amor divertido! :-)