A viagem do elefante


O protagonista chama-se Salomão e vai embarcar numa longa e, certamente, sinuosa viagem, repleta de peripécias, entre Lisboa e Viena.
Nela se desenha o retrato de um Portugal seiscentista que em nada diverge do actual, perpassado pela fina lupa da ironia e do humor corrosivo de José Saramago.
O monarca D. João III ofereceu Salomão como presente ao arquiduque Maximiliano de Áustria, decisão que marcará indelevelmente o destino deste paquiderme que parecia votado a ser objecto exótico, alvo dos olhares curiosos da corte real e do povo de Lisboa, embrenhado em sujidade e melancolia.
Na senda de Salomão, o elefante, e de Subhro, o seu tratador indiano e inseparável compagnon de route, percorremos os trilhos da complexa identidade lusa, da aventura europeia, e do abismo civilizacional que sempre nos distanciou dessa mesma Europa desenvolvida.
Ainda agora embarquei nesta viagem e mal posso esperar por vislumbrar o destino final.
Deixo aqui um pedaço delicioso da prosa de Saramago:

Este homem não pode ir para viena em semelhante figura, coberto de andrajos, ordeno que lhe façam dois fatos, um para o trabalho, para quando tiver que andar em cima do elefante, e outro de representação social para não fazer má figura na corte austríaca, sem luxo, mas digno do país que o manda lá, Assim se fará, meu senhor, E, a propósito, como se chama ele. Despachou-se um pajem a sabê-lo, e a resposta, transmitida pelo secretário, deu mais ou menos o seguinte, Subhro. Subro, repetiu o rei, que diabo de nome é esse, Com agá, meu Senhor, pelo menos foi o que ele disse, aclarou o secretário, Devíamos ter-lhe chamado Joaquim quando chegou a Portugal, resmungou o rei.

Comentários

Jaymz disse…
Mais um belo livro de Saramago, sem dúvida. Pena é, e segundo palavras do próprio, este tenha sido provavelmente o seu último livro.
Belo livro, aliás, também o teu blog é muito interessante. Beijos do Brasil

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