passos mudos


Ouvia-se apenas o eco dos seus passos frenéticos, a desbravar as ruas, com sofreguidão, como se navegasse num mar revolto, tumultuoso. E a tempestade adensava-se cada vez mais. Pensamentos contraditórios, risíveis, desesperados até, cruzavam-se numa mente já exausta de tanto pensar. O pensamento, o maior dos fardos. Mas não deixava de embarcar nesta corrida alucinada, em busca de uma réstia de verdade. Os passos sempre frenéticos, sempre estridentes. Tick, tack, tick, tack, o tempo corria-lhe nos pés e a urgência do encontro impunha que essa viagem não desejada se realizasse, no matter what...Pensava na fragilidade de todas as coisas. Como tudo podia desmoronar de um momento para o outro, um frágil castelo de cartas a esvoaçar perante um ténue sopro...E o pensamento sempre a pairar sobre o caminho, essa maldição inevitável...Sorria, apesar do sofrimento. Acreditava, apesar do desespero. Virou a esquina, o sol inundou-lhe o rosto aturdido, a chuva cessara, da tempestade nada restara senão a magia de duas mãos que se entrelaçam...

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