Be my Valentine! Viseu na óptica do utilizador romântico.


Fui convidada pela Guida Design de Eventos a escrever um texto sobre o Dia dos Namorados em Viseu e aqui segue o meu roteiro, pessoal e intransmissível, por esta cidade de granito e de flores. Há, em Viseu, um romantismo, à primeira vista, pouco visível, a que as palavras do texto e as fotografias encantadoras de Mónica Tavares, com a assistência de João Tavares, deram corpo.

Porque é de Viseu que se trata, um imenso "bem-haja", uma vez mais, à Guida Design de Eventos por este convite que tanto prazer me proporcionou, quer no papel de modelo "acidental" e improvável, quer na escrita em si. As palavras, sempre as palavras. É esse o meu mundo e só aí me sinto inteira.

Be my Valentine! Viseu na óptica do utilizador romântico. 

Nunca regresses a um lugar onde foste feliz. Sempre duvidei desta máxima, aparentemente infalível, como todas as máximas que tenham pretensões de ser definitivas e universais. A forma como lemos um local nunca é a mesma, mudando a cada instante, ao sabor das nossas emoções, e por isso o exercício de (re)visitar se torna tão empolgante.

Proponho um roteiro pessoal e intransmissível pela cidade de Viseu, no dia em que se celebra o Dia de São Valentim, o santo mártir que, com a sua vida, se eternizou como padroeiro do Amor, na civilização ocidental. A memória do seu legado logo se esfumou, dando lugar a um consumismo desenfreado e sem critério. Mas os nossos trilhos serão outros. 

Será Viseu feminino ou masculino? Esta é para mim uma questão muito intrigante que insiste em permanecer sem resposta. Há na sua essência granítica, nas suas casas senhoriais, na imponência de uma Sé Catedral que não cessa de surpreender quem a vislumbra, uma qualidade manifestamente masculina. No entanto, Viseu acolhe os seus visitantes de braços abertos e sorriso rasgado, com mesas fartas e vinhos de excelência, e nada me parece mais feminino do que esse instinto de uma cidade que é mãe extremosa e dedicada.

Parque de boas memórias
O Parque Aquilino Ribeiro, um dos locais mais emblemáticos da cidade para amantes de sucessivas gerações, foi redesenhado, adaptando-se às necessidades da era contemporânea. Hoje em dia, há suportes para bicicletas, mesas de piquenique, bancos mais confortáveis e um parque infantil muito moderno e bem equipado.
As árvores continuam frondosas e altivas, escondendo os segredos mais inconfessáveis e afagando os enamorados nas suas sombras generosas nos dias mais quentes e secos.
O Parque (como é conhecido pelos locais, que deixam cair o nome do escritor brilhante que lhe deu nome, não por falta de respeito ou de memória histórica, apenas porque se havia tornado incrivelmente familiar) já não tem a aura clandestina de tempos idos. O secretismo das suas amplas avenidas deu lugar a uma maior luminosidade. Mas o tempo insiste em não passar e os demorados passeios de mãos entrelaçadas nunca saíram de moda! 

Do Rossio, com amor

Seguimos rumo à Praça da República, conhecida como Rossio entre os viseenses, o local onde o coração da cidade bate mais forte.
Sob as magníficas tílias intemporais, os enamorados sussurram palavras de açúcar e trocam olhares de cumplicidade, indiferentes ao insistente tiquetaque do relógio e aos burburinhos da cidade que não pára.
Aqui se realizava a ancestral feira semanal, retratada com inegável mestria, no belíssimo painel de azulejos da autoria de Joaquim Lopes (início do séc. XX) que deixa boquiabertos os que pelo Rossio deambulam.
Mesmo ao lado do Rossio, encontra-se o Jardim das Mães, cuidado com um esmero de relojoeiro suíço, e que é um hino à maternidade e ao poder criador da mulher.

De funicular é que vamos!
Primeiro estranhou-se, depois entranhou-se. O funicular de Viseu foi desde o seu aparecimento, uma obra polémica. Criticava-se a curta duração do trajecto e o interesse do investimento.
No entanto, com o passar do tempo, o “amarelinho” foi conquistando os cépticos e tornou-se um meio de transporte muito interessante para todos aqueles que queiram, a partir da zona ribeirinha, chegar à Sé Catedral, num trajecto visualmente apelativo.

Museu Grão Vasco
Em Viseu, todos os caminhos vão dar ao Museu Grão Vasco, um verdadeiro ícone da cidade.
Este é o local ideal para partilhar olhares sobre a genialidade da pintura de Vasco Fernandes, Grão Vasco, o primeiro pintor na história da pintura europeia a retratar o índio nativo do Brasil. Este foi um pintor que, com mestria e com afecto, conseguiu fazer a síntese entre as influências da pintura europeia da época renascentista e os elementos mais regionalistas e locais. Dessa simbiose nasceram verdadeiras obras-primas da pintura, sendo a representação do São Pedro o ponto mais alto da sua maturidade artística.
O Museu Grão Vasco foi remodelado pelo prestigiado arquitecto e Prémio Pritzker da Arquitectura, Eduardo de Souto Moura.O carácter sombrio e frio do edifício perdeu-se por completo, nascendo um espaço de luz e sobriedade que tão bem se enquadra no conjunto arquitectónico envolvente. Para os amantes dos livros e das letras, a livraria do Museu Grão Vasco é um recanto acolhedor onde se encontram obras muito interessantes, no plano da arte e da arquitectura. 

Maria Xica, dona e senhora do seu nariz
Não haverá outro espaço em Viseu, onde os enamorados se sintam tão especiais como na Maria Xica!
Resultado da meticulosa recuperação de uma antiga casa familiar, a Maria Xica é hoje um dos recantos mais apaixonantes da cidade de Viseu. Um certo toque nostálgico, mas sempre acolhedor, faz da Maria Xica um local exclusivo onde nos sentimos em casa.O restaurante no piso térreo é muito aconchegante e o menu de tapas portuguesas verdadeiramente irresistível. No entanto, para um jantar a dois, mais reservado e num ambiente recatado, nada melhor do que escolher uma das salinhas do andar de cima, onde móveis de época convivem com elegantes peças de design. O serviço prima pela simpatia e pela importância do detalhe. 
Aqui somos especiais, e é esse sentimento que torna esta casa tão marcante e, por isso, inesquecível!

Adormecer na Casa da Sé
No final de um dia de descoberta e de partilha, a Casa da Sé assume-se como o refúgio perfeito. Com um belíssimo enquadramento, na Praça Dom Duarte, avistando as imponentes varandas da Sé Catedral, este é um espaço de absoluto requinte e de elegância.
Os doze quartos da Casa da Sé evocam figuras históricas de renome que nasceram em Viseu e que, à sua maneira, celebrizaram o nome da cidade. São espaçosos e amplos, com detalhes absolutamente excepcionais, que revelam um esmero imenso no domínio da conservação e do restauro. 

A Casa da Sé, como os grandes palcos de excelência em Viseu, possui um ambiente deliciosamente familiar, envolvendo os seus hóspedes com a sua hospitalidade e atenção, tão características desta região. 
O pequeno-almoço é um verdadeiro manjar dos deuses, recheado de pequenos mimos e de irresistíveis compotas e bolos caseiros. Delicie-se com as inúmeras surpresas e recantos apaixonantes que esta cidade de granito e flores lhe reserva.

E se foi feliz, regresse sempre!  


Capa de burel por Atelier de Burel | Miguel Gigante

Nail design por Catarina Secretnails




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