A dor dos outros

Passou uma semana desde a autêntica tragédia que se abateu sobre o Quénia, traduzindo-se num brutal assassínio de 148 estudantes universitários, num inqualificável acto de barbárie e de intolerância religiosa.

O que mais me espantou, para além do choque inevitável tratando-se de uma monstruosidade sem limites, foi o fraco eco que este acontecimento teve no mundo e nos media ocidentais.

Se o ataque à redacção do jornal satírico francês Charlie Hebdo fez soar um coro uníssono de protestos, uma comovente onda de indignação e de repúdio sem precedentes, a tragédia do Quénia foi noticiada com uma brevidade e um poder de síntese e de indiferença verdadeiramente assustadores. Uma tal barbárie que teve como vítimas centenas de inocentes não foi suficientemente trágica, aparentemente, para que Merkel, Hollande ou Obama dessem as mãos, em jeito de tributo simbólico.

Valerão menos as vidas de quenianos, de africanos, daqueles que habitam o terceiro mundo? É imensamente triste a sina de todos aqueles que nascem e (sobre)vivem nos pontos mais inóspitos do planeta, no que à questão dos Direitos Humanos diz respeito.

Perante esta tragédia inominável, o mundo ocidental deveria ter erguido a sua voz e tomado uma posição. Tão clara e inequívoca como quando todas as pessoas eram Charlie. Demasiado centrado no seu umbigo civilizacional, o Ocidente virou a cara e os media ocidentais passaram fugazes imagens de uma tragédia. Lá longe. Parece que foi no Quénia.

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