Da bonança (depois da tempestade)

Há algo de profundamente insondável naquele vislumbrar, ainda que ténue - ao início - da concretização de um sonho que se acalentou toda a vida. Num primeiro e fugaz instante, a incredulidade, ficamos atónitos, perplexos, perante uma possibilidade esmagadora: gerar vida dentro.

Um sonho que fez de mim a sua casa e que reclama da minha parte a soma de inúmeras variáveis: dedicação, cuidado, afecto e, acima de tudo, esperança! É a esperança o ingrediente secreto para que esta equação dê certo. Mas nem sempre é fácil este equilíbrio permanente entre a esperança confessa e o medo inevitável, sobretudo depois da dor alucinante da perda.

No entanto, a cada dia que passa há uma esperança que se renova e, passo a passo, se vão dissipando os medos e as certezas vão ganhando raízes mais profundas. Os dias e as semanas contam-se, com esmero, na mais bela das aritméticas, em que se somam sonhos e se subtraem apreensões.

O foco da existência passa a ser este outro coração que bate em uníssono com o nosso. Um corpo que se vai desenhando, um sonho que vai ganhando forma e que confere sentido à vida em si, senão mesmo, o sentido maior de um caminho que se trilha. A princípio, com passos titubeantes, incrédulos, que dão lugar, paulatinamente, a um pulsar mais firme, mais repleto de fé. Uma fé inabalável num sonho que despontou e, num ápice, se converteu na razão de todas as coisas. Um soneto perfeito que ecoa dos lugares mais recônditos da nossa alma. Dois corações na sintonia mais poética da existência.

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