Tobias

É difícil abrir a janela e não te ver estendido no campo, fitando o horizonte, nesse teu porte magnânimo e senhor de si. É difícil chegar a casa, sabendo que já não virás ao meu encontro, numa correria desenfreada, como se o mundo estivesse à beira do fim, brindando-me com aquelas lambidelas que, de um sopro, me tiravam a make-up toda. É difícil aceitar que tenhas partido de uma forma tão súbita, tão inesperada, quando parecias tão bem, tão eterno. Bem sei que, para nossa infelicidade, os animais não têm a longevidade que desejaríamos, mas nada me preparou para isto, Senhor Tobias. Foste o meu primeiro e único cão e ensinaste-me durante todo este tempo a verdade que existe no amor incondicional e na alegria de existir e de viver, a maior das bênçãos! Foste o nosso cãopanheiro de vida que seguiu connosco, sempre fiel, sempre delirante por amar e ser amado. Brincavas com o Antoninho com um cuidado de filigrana e desde logo o acolheste nesse teu coração tão puro. Desde o dia em que te adoptámos e te fomos buscar, tão pequenino e irrequieto, a uma lavandaria, e entraste na nossa casa, até ao dia em que partiste, foste uma lição de Amor em 4 patas. A prova de que existe uma bondade primordial que faz dos cães seres tão semelhantes a nós. Mas melhores, porque destituídos de más intenções e das sombras dos seres humanos. 

Sei que ainda te vou ouvir ladrar muitas vezes, correr, desenfreado, pelo campo, reclamar biscoitinhos à janela desta casa que sempre foi tua. Fizeste dos nossos corações casa e aqui permanecerás. 

Esta é a minha catarse. É através das palavras que limpo a alma e tento sossegar o coração. Vazio como uma casa abandonada.

🖤